27/06/2010

"...quando um pé, todo sujo de lama, reconhece outro, tão sujo quanto. " *

O reconhecimento do outro
como sujeito
como amigo
como amante
O outro.
Reflexões flutuantes chegam no momento de aprender a lidar com a solidão
E entender esses outros caminhantes do mundo
Nem sempre estar só significa infelicidade
E que liberdade não é libertinagem
A liberdade pra mim somente funciona quando existe o cuidado com o outro

Já dizia Leonardo Boff.
"Sinta-se filha da terra e cultive a ética do cuidado"
Essa frase foi o maior presente que pude receber.
Li tantas vezes que fincou no meu coração.
O cuidado com o outro é necessário, preciso, indispensável.
Sofremos um processo de capitalizações das relações humanos
O humano agora é objeto sexual
fútil
capital material ou algo parecido
Desmistificá-lo e identificar o outro como ser que pensa, sofre, se oprime, é oprimido...
Já é um primeiro passo para entendê-lo
Esses outros estão nas ruas, nas calçadas, nos bares.
Nessa cidade de luz e escuridão
Nas crianças descalças e com fome
Nos olhares pedindo socorro
Esse outro é a mãe terra
É você, sou eu.
Nesses nós
Busco a re-significação desse outro
Fantasiando um mundo de relações sociais e afetivas preservando os valores culturais, pessoais dos seres.
E nessa procura
Sempre acontece de esbarrar nas ruas com "... um pé, todo sujo de lama, que reconhece outro, tão sujo quanto. "... e ai entendo o porque desse meu cuidado com o outro e o mundo.

* "... um pé, todo sujo de lama, que reconhece outro, tão sujo quanto. " Frase da Tylla.


2 comentários:

Ediane Soares disse...

Lindas palavras Fê! Cada dia admiro mais esse seu (nosso) cantinho tão fluido e cheio de inspiração... parabéns!

Segue algumas reflexões a partir desse poema-reflexão.


"A liberdade pra mim somente funciona quando existe o cuidado com o outro"

E a liberdade do outro?
Existe uma tênue linha entre a minha e a dele...
Existe um "ele" ou "ela" que subjetivamente existe, e deseja, e pensa, e age... o cuidado com esse outro (abismático enigma) requer reciprocidade, senão corre-se o risco desse cuidado ser alienado... ser uma via de mão única sem retorno. Não falo de retorno como troca, recompensa ou coisas afins, mas do retorno enquanto compreensão e apreensão mesmo do gesto. Há que se cuidar desinteressadamente, mas há de se ter em mente que a ética que se funda nesse gesto não pode se resumir à boa intenção.

Todo gesto de cuidado, mesmo o mais despretensioso, requer os braços abertos desse outro para acolher. Acho que por isso Paulo Freire já dizia que "ninguém educa ninguém", é sempre uma via de mão dupla.E eu parafraseio o sábio pensador dizendo que "ninguém cuida de ninguém", se esse gesto não for fruto de uma construção coletiva, aberta a mútua compreensão e aceitação. Cuidado não pode ser confundido com a piedade ou caridade, pois estes apenas conferem gestos momentâneos ou sentimentos vazios, sem ação transformadora, são imediatistas.

Pra finalizar, segue essa citação do Boff do texto "O cuidado essencial":


"O cuidado é uma relação amorosa para com a realidade, pois pelo cuidado nos envolvemos com ela e mostramos nosso interesse e até preocupação com ela. Mas, o cuidado é mais que tudo isso. Ele é a atitude que antecede a todos os demais atos e os possibilita, seja os atos da vontade seja os da inteligência. Eles somente são humanos se nascerem do cuidado e são acompanhados pelo cuidado. Então são construtivos e não irresponsáveis e deletérios. É por essa razão que filósofos como Martin Heidegger consideram o cuidado a verdadeira essência do humano. Ele naturalmente é impregnado de cuidado essencial. (...) A ética do cuidado funda o consenso mímino entre os humanos, que garante a sobrevivência de todos e da natureza. (...) Só o cuidado, transformado em paradigma de compreensão e de atuação e articulado com a solidariedade e a responsabilidade poderá salvar a vida, a espécie humana e o planeta Terra. Sem ele não há paz nem alegria de viver."

Ufa! É isso... beijo grande!

Anônimo disse...

A gente se perde, em meio os valores perdidos desta sociedade. O capitalismo está mais incurso dentro de nós, do que a gente pode se dar conta. As relações da modernidade, onde impera a LIBERTINAGEM, também estão impregnadas disso. Hoje a gente sai a procura de pessoas a fim de consumi-las e descartá-las posteriormente. Ora, que nome damos a isso?! CONSUMISMO das relações. Sofrer? Pra que sofrer, minha filha! Se há tantas pessoas especiais!

Cansei disso, cansei de me deixar levar por todas essas lógicas!
AS PESSOAS NÃO SÃO SUBSTITUÍVEIS!

Abraço grande, Fê - Pé Sujo! De volta as velhos valores, ao que é simples, ao trivial, ao pé sujo de chão que leva dele algo mais que a sua passada, a dor que tenta nos ensinar algo, e que é tão importante quanto a alegria e a bonança, como já dizia Chico Xavier.

=*
Tylla