10/08/2011

O pé de jambo*

Ao entrar na sala um menino faceiro pergunta a sua avó se poderia criar um cachorro. A avó então lhe pergunta: - Menino porque queres criar um cachorro?
Com o brilho da curiosidade no olhar ele responde:
- Vovó quero saber como é criar um animalzinho. Será que é como criar uma pessoa?
A sabedoria da avó percebe que o neto inicia o despertar para saber o que significa o cuidado. E para testar o seu conhecimento ela lhe propõe:
- Meu lindo netinho tenho uma proposta a fazer. Em vez de te dar um cachorro vou te dar um pé de jambo e lhe ensinar como plantar, regar e cuidar dessa muda. Ai quando ela crescer, ficar forte e der seus primeiros frutos vou saber que está preparado para cuidar de um animal.
O querido Antônio (seu neto) ficou muito empolgado, porém não entendeu porque a sua avó não lhe deu logo um cachorro que era o seu sonho.
Ele em seguida falou:
- Mas, vovó cuidar de uma planta é mais fácil de que um cachorro. Só vou saber se cuidar de um animal se tiver logo né, não?
Dona Leopolda responde:
- Com o tempo entenderá o porquê dessa experiência. E quero que cuide da planta como se fosse um cachorrinho.
Segue juntos para o quintal num encontro de sorrisos e olhares para começar a iniciar um processo de descobrimento sobre a vida. A avó pega uma muda do pé de jambo e seguem para um pedaço de terra junto ao neto e lá eles começam a plantar a sentir a terra e iniciar um novo universo de contato e entendimento da natureza.
Com a areia nas mãos ela fala:
- Querido Toninho toda vez que tiver triste ou feliz venha junto ao seu pé de jambo e converse com ele. As plantas escutam, observam e protegem. Só não enxergam essa sensibilidade da natureza quem não vê com os olhos da alma. Quando um dia eu partir pense que estou aqui no húmus da terra. Todos um dia viramos terra e estamos presente em cada canto.
O neto olhou a avó e percebeu o quanto ela era sábia e ficou feliz com o dia que passou junto a ela e passou dias tentando cumprir a missão que lhe foi dada. O que ele não sabia era o quanto esse momento iria ficar marcado e que esse ensinamento lhe seria tão inspirador na sua vida.
Então, Antônio passou a cada dia acompanhando o crescimento daquele ser e cada folha que crescia era uma felicidade só. Enquanto cuidava do pé ele sempre observava os pássaros, as formigas trabalhando e toda aquela movimentação para a sua sobrevivência.
Deu até o nome aquele pedaço de chão. Chama-se apartir daquele momento Tupinambá. Ele não entendia qual o significado, mas, já tinha escutado muito esse nome pelos seus pais. E achava um nome bonito.
Passaram-se dias e horas e a árvore cresceu, floriu. Enfrentou frio, calor, chuva e ventania. E em dias de tempestade o garoto sentia-se aflito com medo do seu amigo morrer.
Sua avó ficava observando como ele tratava a planta e o espaço. E cada dia entendia que o seu neto estava fazendo a coisa certa ficando super orgulhosa com a movimentação dele.
Num dia de sol brilhante e fumegante Antônio acorda bem cedo e ver que os primeiros frutos estão crescendo e fica super feliz. Não acredita que conseguiu chegar a ver a planta a lhe dar alimento. A sua empolgação era tanta que passou o dia inteiro olhando e conversando com o pé de jambo.
Passaram mais alguns para amadurecer a fruta e ele sentia uma ansiedade medonha que ficava sempre andando de lado a outro.
Chegou o grande dia e os frutos estavam bons para comer e ele percebeu que eram grandes, cores vibrantes. Colocou numa cesta e foi direto a cozinha entregar a sua avó.
Grita de longe:
- Vovó. Vovó. Consegui! Consegui!
A avó responde:
- Conseguiu o que meu amor?
A criança faceira com o olhar brilhante e seu sorriso contagiante entregam os frutos a sua avó. A alegria de dona Leopolda era imensa que não cabia no peito. E assim reconheceu que o neto conseguiu cumprir a missão dada.
O pequeno Toninho diz:
- Vovó eu quero te entregar esses frutos como presente e dizer que já estou preparado para cuidar do cachorrinho, né?
A avó responde:
- Agora você entende o que cuidar. Está preparado para uma nova missão. Porém, quero te pedir que ainda cuide do seu pé de jambo e não se esqueça de perceber os ensinamentos que ele tem para lhe dar. Amanhã mesmo você terá o seu cachorrinho.
O menino sapeca. Pulou, gritou de tanta emoção.
No dia seguinte ele ganhou o cachorro.
Passaram-se anos e ele continuou cuidando do pé de jambo e do seu cachorro. Entretanto, um dia o seu animal ficou doente e chegou a falecer. A tristeza não cabia dentro de Antônio e ele não entendia porque com tantos cuidados ele tinha morrido.
Sua avó lhe pega no colo e ficam ali parados na varanda chorando e sentindo o silêncio. O vento bate e não consegue levar a dor da perda.
Rompendo o silêncio sua avó diz:
- Antônio você não errou em nada. Lembra, disse que todos viramos terra? Então, foi o momento dele virar terra. Ele ainda é vida. Só que de outra forma. Pense que a presença dele estará sempre no seu coração. A experiência de perder algo é ótima para entendermos que não somos imortais. Nascemos e morremos. Mas, de alguma forma depois da morte do corpo sempre estaremos por perto nas mentes e corações. Tenha uma nova missão a você encarar a perda e superá-la. A dor faz parte. Porque cuidamos, amamos. É normal. Agora quero que levante-se e vamos juntos enterrá-lo perto ao seu pé de jambo para o seu corpo virar húmus para as plantas e que ele renasça nos seus frutos.
Toninho chorava. Mas, no fundo entendia o que sua vó quis dizer.
Outra vez a vida seguiu e passaram longos anos. Antônio já era adulto e retorna a sua casa que já não tem sua avó e nem seu cachorro. E segue direto para o seu pedaço de terra e fica a sombra do seu pé de jambo. Horas ele passa ali sentindo, lembrando. E compreende que aquela experiência de criança dada por sua querida avó fez entender o que é verdadeiramente amar, cuidar e perder.
Nostálgico ele sai. E agradece aos seres da terra e em especial a sua avó que não está mais ao seu lado mais está no seu coração e que agora ela faz parte do ciclo da vida que alimenta a teia da terra...

Um comentário:

Miniele disse...

Nossa, que lindo Fernanda. Tô toda arrepiada. Continue, escreva mais. Nossas crianças precisam disso. Lindo ensinamento!